Com avaliação estratégica favorável e apoio da população, a Finlândia deve decidir nas próximas semanas sobre uma candidatura à Otan, afirmou nesta quarta-feira (13) a primeira-ministra finlandesa Sanna Marin durante uma visita à Suécia. A entrada do país na Aliança poderia convencer Estocolmo a fazer o mesmo.
“Acho que isso acontecerá rapidamente. Dentro de algumas semanas, não meses”, declarou Marin.
O governo finlandês esperava a publicação de um relatório de avaliação estratégica, encomendado de maneira urgente após o ataque à Ucrânia. O documento foi publicado nesta quarta e deu aval favorável à adesão, pouco antes do início de um debate sobre o assunto no Parlamento na próxima semana.
O texto insiste sobre o fato que somente membros da Otan beneficiam do “escudo” de defesa coletiva, previsto no artigo 5 da organização, acionado quando um dos países integrantes é atacado.
Uma adesão à aliança liderada pelos Estados Unidos permitiria dissuadir, de maneira “consideravelmente maior”, um possível ataque contra a Finlândia, garante o documento.
Atualmente, o país –que tem uma fronteira de 1.300 km com a Rússia– é apenas parceiro da Otan. “A diferença entre ser parceiro e membro é muito clara e continuará sendo assim”, destacou a primeira-ministra social-democrata. “A única maneira de ter garantia de segurança é dentro do âmbito da defesa e da dissuasão comuns garantidas pelo artigo 5 da Otan”, acrescentou.
Uma cúpula da Otan está prevista para 29 e 30 de junho em Madri, na Espanha. Analistas acreditam que a candidatura da Finlândia será anunciada até lá.
Efeito dominó
A Suécia também não exclui a possibilidade de unir-se à aliança, mas parece mais hesitante que o país vizinho. “Sempre existem riscos”, disse nesta quarta-feira a primeira-ministra sueca, Magdalena Andersson.
O paradoxo é que a guerra contra a Ucrânia, lançada por Moscou sob pretexto da ameaça da extensão da Otan, pode acabar fazendo a Finlândia entrar na aliança dobrando as fronteiras terrestres da Rússia com países membros.
Antes da invasão da Ucrânia em 24 de fevereiro, a possibilidade de a Finlândia ou a Suécia mudarem suas linhas históricas de não-aliança militar era altamente improvável.
“Tudo mudou quando a Rússia invadiu a Ucrânia”, reconheceu Marin.
O apoio à adesão, que ficava em torno de 20 a 25% há décadas na Finlândia, quase triplicou, ultrapassando os 60% atualmente.
Uma clara maioria a favor se define também no Parlamento finlandês. Entre os 200 deputados, 100 já se mostraram à favor da adesão e somente 12 disseram ser contra, de acordo com a mídia finlandesa.
Em paralelo, Helsinki multiplicou os contatos com a maioria dos 30 membros da Otan.
O partido Social Democrata sueco, por sua vez, anunciou segunda-feira (11) um debate interno sobre a questão. E o movimento de extrema direita dos Democratas da Suécia decidiu pela primeira vez apoiar a candidatura do país, caso a Finlândia fizesse o mesmo.
O secretário-geral da Otan, o norueguês Jens Stoltenberg, afirmou diversas vezes que a porta estava aberta aos países escandinavos.
Secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, em discurso no dia 24 de março de 2022 — Foto: Gonzalo Fuentes/Reuters
Outros países do norte da Europa já são membros, como a Noruega, a Dinamarca, a Islândia, a Polônia, a Estônia, a Lituânia e a Letônia.
Para Helsinki, a Otan acredita que sejam necessários entre quatro e 12 meses para fechar o processo e a Finlândia passe a ser o 31º membro da aliança, o que necessita de um acordo e uma ratificação unânime.
Qual a reação da Rússia? Moscou alertou Estocolmo e Helsinki, sublinhando que uma adesão teria “consequências políticas e militares”.