O último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) lançou um alerta contundente: o planeta Terra está se encaminhando para um aumento de temperatura entre 2,4°C e 2,6°C, em relação aos níveis anteriores à Revolução Industrial, muito além das metas estabelecidas no Acordo de Paris. E os especialistas, como o ecólogo David Montenegro Lapola, destacam que os compromissos atuais estão longe de conter esse avanço.
“A estratégia precisa ser traçada com metas claras e ambiciosas para a gente reduzir nossa dependência de combustíveis fósseis”, diz Lapola. “Qualquer outra solução proposta vai ser perder tempo, tempo que não temos mais. Precisamos reduzir a queima de combustíveis fósseis o mais rápido possível”. As diretrizes do Acordo de Paris limitavam o aumento da temperatura global a 1,5°C.
Lapola é o atual coordenador científico do Ppograma de pesquisas AmazonFACE, que realiza pesquisas em ecologia e mudanças climáticas na Amazônia. Ele também atuou como contribuinte do 6º Relatório do IPCC.
Em setembro, o Comitê Interministerial sobre Mudança do Clima e o Crescimento Verde (CIMV) do Brasil aprovou uma revisão na Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) do país, restaurando os níveis de ambição climática estabelecidos em 2015.
Anteriormente, as metas brasileiras buscavam uma redução de 37% nas emissões até 2025 e de 50% até 2050, em relação aos níveis de 2005. Contudo, essa revisão estabeleceu novas metas de redução de gases de efeito estufa em 48% até 2025 e 53% até 2050.
“É um movimento pequeno, porque simplesmente volta a uma meta antiga. Resta saber se com essa NDC vai mudar outras coisas. Mas retornar a um nível de ambição de 2015 não é realmente um progresso”, pontua Lapola.
“O Brasil, tirando a questão do desmatamento, que é nossa grande fonte de emissões, não é um big player. Se China, Estados Unidos, Europa, Rússia e todos esses outros continuarem emitindo, nós vamos sofrer as consequências do mesmo jeito”, afirma. Big player, no caso, seria um grande