Por Athylla Borborema
O MST – Movimento dos Sem Terra, um dos movimentos sociais mais duradouros e resistentes da américa latina, promoveu um megaevento entre sexta-feira e sábado (05 e 06/11) no Assentamento de Reforma Agrária Jaci Rocha, adjacente da cidade de Itamaraju, embora sediado em território do município de Prado, onde se reuniu lideranças, políticos, intelectuais e artistas de várias regiões do Brasil.
Foram dois dias de eventos ininterruptos com debates e apresentações artísticas culturais em plenárias que reuniram juventudes de todas as etnias, sem-terra, quilombolas, ribeirinhos, indígenas e povos tradicionais das várias regiões da Bahia, além de inúmeros movimentos sociais do País. O município de Prado foi representado pelo próprio prefeito Gilvan da Silva Santos (PSD), além da presença da secretária de estado Fabya Reis, titular da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial do Estado da Bahia.
Uma feira com produtos orgânicos da terra e obras produzidas pelos sem-terra, quilombolas e indígenas foram expostas durante os dois dias do evento no Assentamento de Reforma Agrária Jaci Rocha. No sábado à tarde houve um momento em que lideranças, políticos e artistas nacionais presentes no evento participaram de um grande plantio de árvores nativas em uma área preparada especialmente para a ocasião.
Com a presença da atriz Maria Marighella, o advogado Carlos Augusto Marighella, Sandra Fraga, da Fundação Oswaldo Cruz e do Cacique Pataxó José Fragoso, o MST realizou o ato de plantio de duas mil árvores, lançando o Plano Nacional “Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis” do MST, no Bosque Carlos Marighella, na área da Escola Popular de Agroecologia e Agrofloresta Egídio Brunetto, no Assentamento Jacy Rocha.
Em um segundo momento o ator e diretor Wagner Moura, o ator Herson Capri, o pastor e ator Henrique Vieira, a cineasta Tata Amaral e os deputados federais Valmir Assunção, Orlando Silva e Gleisi Hoffmann também plantaram mudas de pau brasil, vinhático, jequitibá branco, peroba e ipê amarelo. Ainda participaram do ato de plantação de árvores os atores Leandro Ramos, Ernesto Xavier, Renê Silva e a ativista carioca Tiê Vasconcellos.
Conforme Bárbara Loureiro, coordenadora do plano nacional, a ideia de plantar árvores homenageando Marighella durante a semana em que se completa 52 anos de sua morte e mês que antecede as comemorações dos 110 anos do seu nascimento, vem de encontro com a ideia de que “Marighella” também é uma semente da nossa luta. Nós vivemos essa batalha faz muito tempo e neste momento, se cada uma pessoa planta uma semente, a gente sabe o futuro de amanhã”.
De acordo com Evanildo Costa, da direção nacional do MST, a atividade marcou um momento importante do ato de resistência e cuidado com os bens comuns. “Esse debate sobre a importância do cuidado com a nossa água, com a nossa biodiversidade e com as nossas florestas precisa ser do conjunto da sociedade. O MST tem a missão de plantar 10 milhões de mudas de árvores até 2030 na Bahia, nossa meta é plantar um milhão de mudas por ano que partiu ainda em 2020 e em 2021 já estamos finalizando nosso segundo milhão”, festejou Evanildo Costa.
A neta do revolucionário baiano Carlos Marighella, a ativista cultural e vereadora por Salvador, a atriz Maria Marighella, fez um discurso comovente sobre o legado do avô, de luta, esperança e cultura no despertar das revoluções. “O que está acontecendo agora, é que nós estamos disputando a terra boa da democracia, a terra que é boa de plantar direito por justiça social. Lembrando que a democracia é um arado que a gente não pode deixar de disputar”, falou se referindo aos 30 anos de disputa pela redemocratização do Brasil.
O deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP), disse que a luta do MST vai além da luta pela ocupação da terra, por Reforma Agrária, mas é também um Movimento que aponta o caminho para construção de um outro projeto histórico da sociedade. Júlia Aguiar, vice-presidente da UNE – União Nacional dos Estudantes disse que o Brasil vive um momento que se esconde a história daqueles que lutam e o filme Marighella conta a história de quem luta. O secretário do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC Paulista, Moisés Júnior, lembrou que o povo precisa voltar a ser feliz, a ter comida na mesa, emprego, que seus filhos tenham acesso à universidade, acesso à moradia e tudo isso, passa pela luta do campo, pelos movimentos sociais.
O deputado federal Valmir Assunção (PT-BA), destacou a relevância de Marighella para a história do país. “Estamos aqui para nos encontrarmos com o maior lutador e revolucionário que este país conheceu: Marighella. Marighella era um homem negro e a direita não aceitou. Em pleno novembro negro, é muito simbólico e nos dá força assistirmos este filme junto com aqueles que lutam como ele lutou”.
A presidente nacional do Partido dos Trabalhadores, a deputada federal Gleisi Hoffmann (PT/PR), disse que é preciso vencer esta página triste da história e devolver o Brasil para o povo brasileiro. Já Joana Guimarães, reitora da UFSB – Universidade Federal do Sul da Bahia, ressaltou o papel do Movimento Sem Terra na luta da classe trabalhadora. “Com o MST aprendemos sobre a luta por uma sociedade mais justa e temos muito que aprender”.
“O sangue de Marighella não foi em vão”, marcou a deputada estadual do PT-RJ, Rosangela Zeidan (PT/RJ). Já João Paulo Rodrigues, da direção nacional do MST, ressaltou o caráter político da atividade. “Este é um ato para dizer que não aceitamos a fome como algo normal. Por isso, assim como Marighella fez, vamos continuar lutando, lutando contra este atual governo. Aquele mundo que Marighella sonhou é o mundo que o povo Sem Terra luta para construir, um mundo sem exploradores”, enfatizou João Paulo.
“Com a exibição do filme em um assentamento de Reforma Agrária, o MST conseguiu unir campo e cidade para destruir as cercas dos latifúndios. Dessa vez ninguém precisou comprar ingresso. A bilheteria foi a porteira do assentamento com a bandeira hasteada, a contagem regressiva foram as palavras de ordem e na tela montada na área do assentamento, Marighella foi exibido com sua poesia e resistência em luta”, celebrou Lucinéia Durães, da direção nacional do MST.
O ponto alto do evento foi realmente a exibição do filme “Marighella” lançado na noite deste sábado (06/11) para cerca de três mil pessoas no Assentamento Jaci Rocha com a presença de boa parte do elenco e do autor e diretor do filme, o baiano Wagner Moura. “Marighela foi lançado em todo Brasil neste último dia 4 de novembro, data do assassinato do escritor, revolucionário e político baiano Carlos Marighela do Nascimento, um dos mais emblemáticos e controversos guerrilheiros contra o regime nos anos 1960 no Brasil.
Carlos Marighella foi cofundador da Ação Libertadora Nacional e um dos principais organizadores da luta armada contra a ditadura militar brasileira que durou de 1964 a 1985 e chegou a ser considerado o inimigo “número um” do regime. Carlos Marighella foi um dos 7 filhos de uma família pobre de Salvador. Seu pai era o imigrante italiano Augusto Marighella, um mecânico e motorista do caminhão do lixo. Sua mãe era baiana, negra e empregada doméstica Maria Rita do Nascimento.
Carlos Marighella nasceu em Salvador no dia 5 de dezembro de 1911 e foi assassinado após ter sido emboscado por homens da repressão militar, exatos 30 dias antes de completar 58 anos de idade, na noite do dia 4 de novembro de 1969, numa alameda de acesso ao convento dos freis Dominicanos, onde um grupo de religiosos foi torturado e sob crucificação foi forçado a convidar Marighela até o local, onde seria morto pelos militares.
O filme “Marighella”, dirigido por Wagner Moura, durou 7 anos para ficar totalmente pronto e demorou mais 2 anos para ser exibido no Brasil, em razão de ter sido censurado pelo atual governo e a liberação para sua exibição só foi possível via justiça. Em entrevista a equipe do Teixeira News na noite deste sábado (06/11), o ator e diretor Wagner Moura afirmou que Carlos Marighella era um personagem da história do Brasil que teve a sua saga apagada, silenciada pela narrativa oficial e que continua causando medo. “É engraçado como o fantasma de Marighella causa, ainda hoje, talvez mais medo e terror nessa galera, do que na época em que ele estava vivo”.
Somente depois de dois anos de espera, finalmente o público brasileiro está podendo assistir a biografia do comunista que ficou conhecido como o Inimigo nº 1 da Ditadura Militar. O filme ”Marighella” é o primeiro longa-metragem de Wagner Moura como diretor. Antes de chegar nas telas dos cinemas brasileiros, o filme já havia passado por importantes festivais mundo afora, como o de Berlin, Seattle, Hong Kong, Sydney, Santiago, Havana, Istambul, Atenas, Estocolmo e Cairo, com cerca de 30 exibições em países dos cinco continentes.
A trama acompanha os últimos anos de Carlos Marighella, guerrilheiro que liderou um dos maiores movimentos de resistência contra a ditadura militar no Brasil, comandando um grupo de jovens guerrilheiros, Marighella (Seu Jorge); seu principal opositor é Lucio (Bruno Gagliasso) policial que o rotula de inimigo público nº 1. Henrique Vieira faz o papel do frei, melhor amigo de Marighella. Além de um elenco com nomes como o de Luiz Carlos Vasconcellos, Herson Capri, Humberto Carrão, Adriana Esteves, Bella Camero, Maria Marighella, Ana Paula Bouzas, Carla Ribas, Jorge Paz, entre outros.