Por Athylla Borborema
Uma cerimônia política na manhã deste domingo (30/04), no distrito portuário de Ponta de Areia, no município de Caravelas, no extremo sul da Bahia, marcou a instalação da pedra fundamental do projeto de reativação das obras que deve trazer de volta aos estados da Bahia e Minas Gerais a extinta ferrovia cantada em verso e prosa que por 85 anos fez parte da vida de baianos e mineiros entre 1881 e 1966, que trata-se da EFBM – Estrada de Ferro Bahia Minas ou simplesmente Bahiminas.
O sonho da reativação da Ferrovia Bahia-Minas acontece depois da descoberta em 2020 que a cidade mineira de Araçuaí colocaria o Brasil no mapa global dos minerais para baterias recarregáveis e após a gigante empresa canadense Lithium Ionic ter comprado 100% da Neolit Minerals, empresa brasileira que detém participação de 40% no projeto de lítio Salinas e tem o direito de assumir até 85% de participação no ativo em Minas Gerais.
O negócio foi concluído no último dia 13 de março de 2023 e a Lithium Ionic, empresa canadense listada na bolsa de Toronto, que também possui capital econômico da Rússia e de países Asiáticos ampliou seus horizontes para rastrear mineralizações de lítio nos distritos pegmatíticos de Araçuaí, Itinga, Comercinho e Salinas, na região do médio Vale do Jequitinhonha, no norte de Minas Gerais, cuja jazida descoberta tem potencial de se tornar uma das fontes globais de lítio associados a pegmatitos mineralizados (mineral de minério: espodumênio), com capacidade de ser explorada por 470 anos.
O projeto Salinas atualmente inclui 9 áreas de exploração e direitos minerários, somando 5.713 hectares, localizado a 100 Km do projeto Itinga operada pela própria Lithium Ionic, que contempla outros 7.700 hectares. Primeiro o projeto contemplará apenas o transporte de carga de lítio, mas se prevê o transporte de cargas comerciais, agrícolas, industriais, escoamento da madeira de eucalipto e a exploração do turismo com o transporte de passageiros.
Os 578 Km da Ferrovia Bahia-Minas serão reconstruídos e reativados após 57 anos da sua locomotiva mais famosa, a “Maria Fumaça Poxichá” ter dado o seu último apito, em 31 de maio de 1966. O lançamento do projeto de reestruturação aconteceu neste domingo, dia 30 de abril, em Ponta de Areia, distrito histórico de Caravelas, onde o ponto de partida da Ferrovia será novamente colocado em operação. Para a reativação da Ferrovia Bahia-Minas e a criação de quatro novos ramais, como se prevê o plano de expansão, estima-se um investimento no valor de R$ 12,6 bilhões, cujos recursos serão oriundos do Canadá, Rússia e de países asiáticos.
Ainda não se sabe quando começa a reconstrução da ferrovia, mas a garantia é que as obras terão início assim que forem concluídos os processos de licenciamento ambiental dos 12 municípios por onde os trilhos passarão. Caravelas, Alcobaça, Nova Viçosa e Mucuri, se houver a construção dos ramais previstos, os trilhos também cortarão os territórios de Teixeira de Freitas e Ibirapuã (BA) e mais 8 municípios mineiros: Serra dos Aimorés, Nanuque, Carlos Chagas, Teófilo-Otoni, Poté, Ladainha, Novo Cruzeiro e Araçuaí.
Quando a Bahia-Minas iniciou sua construção no Século XIX, ela demorou 61 anos para ficar pronta e só funcionou 24 anos em sua plenitude. Desta vez, se prevê que todo trecho pode ficar pronto em apenas 1 ano e meio, pois serão utilizadas máquinas capazes de assentar o terreno e proporcionar o melhor nivelamento ao mesmo tempo em que estruturas dos trilhos são corretamente posicionadas. Às incríveis máquinas de construção sob medida para executar rapidamente esse trabalho, serão oriundas da China, Japão, Inglaterra, Alemanha, Rússia e Canadá que deverão construir 1 Km de trilhos a cada 2 dias.
Os trens comuns e de alta velocidade já fazem parte do mundo moderno há décadas, e com o passar dos anos novos métodos foram criados para transportar pessoas e cargas pelos trilhos – e, até hoje esse é um dos métodos mais seguros de transporte. Apesar de o Brasil não ser um país com grandes linhas ferroviárias, há diversos países que possuem estruturas invejáveis. As engenharias ferroviárias e metroviárias têm investido em novos meios e recursos para criar linhas de trens de modo mais rápido e eficiente, já que essas não são construções tão simples (ou baratas) de serem feitas.
O evento de instalação da Pedra Fundamental do projeto de reativação da Ferrovia Bahiminas na manhã deste domingo (30) em Ponta de Areia, Caravelas – contou com a participação de todos os prefeitos dos municípios beneficiados pelos futuros trilhos da Bahia-Minas: Caravelas, Silvio Ramalho (PP); Alcobaça, Givaldo Muniz, o “Zico de Baiato” (PROS); Nova Viçosa, Luciana Machado (PP); Mucuri, o prefeito Roberto Carlos, o “Robertinho” (UB) foi o único da Bahia que não pode comparecer e enviou representante.
Do estado de Minas Gerais: Serra dos Aimorés, Iran Pacheco Cordeiro (PDT); Nanuque, Gilson Coleta Barbosa (PROS); Carlos Chagas, José Amadeu Nanayoski Tavares (PSD); Teófilo-Otoni, Daniel Batista Sucupira (PT); Poté, Gildésio Sampaio de Oliveira, o “Nego Sampaio” (MDB); Ladainha, Kalid Nedir Maikel (PSB); Novo Cruzeiro, Milton Coelho de Oliveira, o “Nem Capotão (PL); Araçuaí, o prefeito Tadeu Barbosa de Oliveira, o “Tadeu do Posto” (PSD) também foi o único de Minas que não pode comparecer e enviou o vice-prefeito Kélvio Marcílio Silva Oliveira, o “Marcílio Dentista” (Podemos).
Outros três prefeitos de cidades mineiras também compareceram ao evento: Salinas, Joaquim Neres Xavier Dias, o “Kinca Dias” (PDT); Virgem da Lapa, Diógenes Timo Silva (Podemos) e Juatuba, Antônio Adônis Pereira (Patriota). O evento ainda foi prestigiado por inúmeros empresários do setor industrial, estudiosos, entusiastas do projeto e pela população de Caravelas, especialmente do distrito de Ponta de Areia.
Conforme o deputado estadual Jean Freire (PT), da Comissão Pró-Ferrovias da Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais, o novo trajeto que fará a ligação entre Caravelas a Araçuaí, vai passar pelas mesmas cidades e municípios do que a antiga ferrovia, criada em 1881, apenas com algumas mudanças nas zonas urbanas das cidades margeadas. A beleza do trajeto da Ferrovia Bahia-Minas serviu de inspiração para os parceiros Milton Nascimento e Fernando Brant na composição clássica sobre a linha férrea, denominada “Ponta de Areia”, lançada em 1975, nove anos depois da extinção da Estrada de Ferro.
O Diário Oficial da União, edição nº 27, Seção 01, Página 52, que circulou na “terça-feira” do último dia 7 de fevereiro, publicou a Portaria nº 31, do dia 03 de fevereiro de 2023, sob a deliberação do Processo nº 50500.030708/2022-46, que autoriza a reativação da EFBM – Estrada de Ferro Bahia-Minas com a construção e exploração da Ferrovia que volta a ter o seu início no balneário de Ponta de Areia, município de Caravelas e seu ponto final na cidade de Araçuaí, no médio vale Jequitinhonha, no norte de Minas Gerais.
O subsecretário de Transportes e Mobilidade da SEINFRA – Secretaria de Infraestrutura e Mobilidade de Minas Gerais, Gabriel Fajardo, informou que atualmente se discute somente em Minas Gerais a implantação de 19 projetos já pré-definidos pelo Governo com potencial de serem operados no novo modelo sob um investimento estimado em mais R$ 26,7 bilhões e, explicou que para a reativação da Ferrovia Bahiminas, a empresa credenciada para explorar a Ferrovia Bahia-Minas, a “Porto Caravelas MTC Construção e Administração Portuária SPE Ltda”, tem inicialmente um prazo de concessão, previsto para 98 anos de exploração.
Conforme a publicação do Governo Federal, em seu Artigo 2º, trata de “após assinatura do Contrato de Adesão pela ANTT – Agência Nacional de Transportes, a MTC – Multimodal Caravelas teve um prazo no referenciado contrato de 30 dias, sob pena de perda de eficácia da Deliberação e consequente arquivamento do processo. A partir de agora é, portanto, a empresa Multimodal Caravelas (MTC) a responsável pelo projeto. A MTC – Multimodal Caravelas deve investir inicialmente somente na fase do projeto, cerca de R$ 2,4 bilhões.
O secretário de Desenvolvimento Rural do Estado da Bahia, Osni Cardoso, que representou no evento ao lado do deputado federal Paulo Magalhães, o governador Jerônimo Rodrigues, disse que se prevê que a nova Estrada de Ferro irá trazer grandes alternativas para o transporte de minério, eucalipto, celulose da Suzano de Itabatã em Mucuri e combustíveis, principalmente o etanol produzido pelas usinas sucroalcooleiras Santa Maria, no território de Caravelas e DASA, no município de Serra dos Aimorés.
De acordo com o prefeito de Caravelas, Silvio Ramalho (PP), o anfitrião do evento e um dos principais precursores deste sonho, o objeto do projeto em execução da empresa Porto Caravelas MTC Construção e Administração Portuária SPE Ltda., é um importante passo na contemplação dos esforços de quem acreditou em um dos mais ousados projetos de infraestrutura da região baiana na Costa das Baleias e dos vales mineiros do Mucuri, Todos os Santos e Jequitinhonha. O prefeito Silvio Ramalho que se emocionou ao fazer o discurso de recepção e ao fazer uma retrospectiva quando há 6 anos procurou em Belo Horizonte pelo deputado estadual Jean Freire para acampar com ele, o sonho de reativação da Bahiminas, além de dizer que todo empenho possível do município de Caravelas continua sendo oferecido, como também das entidades de classe e da empresa MTC, para que esse sonho se concretize sobre trilhos em um futuro breve.
Segundo Divino Passos, da Multimodal Caravelas, a Ferrovia Bahia-Minas, sendo reativada, ela voltará a ser a mola propulsora da economia da mesorregião desta tríplice fronteira (Bahia, Minas Gerais e Espírito Santo), partindo do porto de Ponta de Areia em Caravelas até Araçuaí/MG. O projeto ainda prevê a implementação de dois ramais no extremo sul da Bahia: Posto da Mata-Teixeira de Freitas (42,35 Km) e Posto da Mata-Fábrica da Suzano no distrito de Itabatã, no município de Mucuri (21,05), linhas previstas no plano de expansão.
A memorável EFBM – Estrada de Ferro Bahia Minas começou a ser construída em maio de 1881 e suas obras foram concluídas no dia 7 de setembro de 1942 com a chegada do seu ponto final na cidade de Araçuaí, no médio vale do Jequitinhonha com 578 quilômetros de extensão e após 85 anos de existência e com 24 anos funcionando em plenitude, foi extinta definitivamente no dia 31 de maio de 1966. Sua volta, significa a retomada econômica da mesorregião, através da arrecadação de impostos, da circulação de bens de consumo, serviços e o impulsionamento direto da tríplice divisa da Bahia, Minas Gerais e Espírito Santo.