O clima tenso entre fazendeiros, indígenas e integrantes do movimento MRC começou desde o início do último mês de julho nos arredores do Parque Nacional de Monte Pascoal, compreendendo territórios dos municípios de Porto Seguro, Itabela, Itamaraju e Prado. Os povos originários denunciam que homens armados cercaram as aldeias de Boca da Mata e Cassiana por conta de disputas de terra. Na quarta-feira (17/07), um tiroteio deixou dois homens feridos, depois que um grupo de indígenas ocupou uma fazenda na região. A Justiça Federal de Eunápolis deferiu uma liminar em favor do proprietário.
Manifesto
A tensão aumentou entre os dias 12 e 18 de junho, quando um grupo de mais de 100 pessoas da etnia Pataxó retomou uma área denominada como Fazenda Brasília. No sábado do último dia 20 de agosto, fazendeiros e produtores rurais fizeram um manifesto às margens da BR-101 em Itamaraju, bloqueando a rodovia por toda uma manhã pedindo apoio do governo federal e alegando que os invasores das suas propriedades rurais são oriundos de outras localidades que se trajam de índios para obter apoio das instituições protetoras dos indígenas.
Morte
Na manhã de domingo, do último dia 4 de setembro a tensão voltou a ficar pior, numa área denominada de “Área da Retomada” às margens do Vale do Rio Corumbau, no litoral norte do município de Prado, vizinha do Parque Nacional do Monte Pascoal de Porto Seguro, onde homens armados em dois carros abriram fogo contra os ocupantes da fazenda invadida, que causou a morte por arma de fogo do adolescente Gustavo Conceição da Silva, 14 anos, que morava na Aldeia Alegria Nova, adjacente do balneário de Corumbau, também no litoral norte do município do Prado. Outro adolescente de 14 anos, foi ferido a bala no braço direito.
Força Tarefa
Na tarde desta quarta-feira (14/09), chegou à cidade de Prado, uma Força Tarefa da Secretaria de Estado da Segurança Pública da Bahia, criada para evitar conflitos entre fazendeiros e índios, no extremo sul da Bahia. São unidades especializadas e territoriais das polícias Militar, Civil, Técnica e Rodoviária Federal que deverão atuar de forma integrada. A Força Tarefa visa mapear rotas utilizadas por criminosos que promoveram ataques, auxiliando na elucidação dos eventos delitivos, além de promover encontros com líderes indígenas e fazendeiros na região.
Confronto em Trancoso
Na manhã de hoje (15/09), integrantes do Movimento Resistência Camponesa (MRC) entraram em confronto com policiais militares na BA-001, adjacente do distrito de Trancoso, no litoral sul do município de Porto Seguro, durante uma ação de reintegração de posse determinada pelo juiz Fernando Machado Paropat Souza, titular da 1ª Vara de Feitos de Relações de Consumo, Cíveis, Comerciais e Registro Público da Comarca de Porto Seguro. A Polícia Militar precisou usar bombas de efeito moral e balas de borracha depois que o grupo resistiu à ação com pedras, paus, garrafas de vidro e coquetéis molotov.
A PM conseguiu desbloquear a rodovia e chegar às fazendas Itaquena e Rio dos Frades para cumprimento das ações de reintegração de posse. Foram usados tratores para derrubar barracos e outras habitações de madeira erguidas nas fazendas. As propriedades rurais estavam ocupadas pelo MRC há cerca de 90 dias. Membros do movimento, de acordo com a polícia, obrigaram o motorista de um caminhão a colocar o veículo no meio da rodovia para impedir a passagem dos policiais.
Ainda conforme a polícia, durante a aproximação dos policiais alguns integrantes do MRC, que estavam abrigados no prédio de uma das fazendas, realizaram disparos de armas de fogo contra as equipes da PM, que precisaram recuar. Após o fim dos disparos, as guarnições avançaram e conseguiram tomar o prédio. Alguns manifestantes foram atingidos por bala de borracha, houve algumas prisões, mas algumas lideranças do MRC fugiram do local. Equipes do Corpo de Bombeiros Militar apagaram focos de incêndio em barricadas feitas pelos manifestantes em dois pontos da BA-001. A Rodovia foi liberada um pouco antes do meio-dia.